PRIMEIRO PLANO: Fora da casa da Vó - Vida Automática - Frases repetidas - Celular à mão
A FILHA VIVE NA LOJA
Devo pagar a conta
Devo receber o crédito
Devo atender aquela
Devo entender aquele
Devo saber parar
O FILHO VIVE NO TRÂNSITO
Preciso vender isto
Preciso comprar aquilo
Preciso ligar prá ele
Preciso falar com ela
Preciso saber parar
A VIZINHA VIVE NO ESPELHO
Quero um vestido novo
Quero um sapato novo
Quero um novo penteado
Quero um carro mais novo
Quero saber parar
A EMPREGADA E O ENTREGADOR VIVEM RINDO E FALANDO AO CELULAR
SEGUNDO PLANO: A Vó dorme
A Vó boceja e começa a acordar
A Filha põe a máscara e se aproxima
FILHA - Bom dia! Dormiu bem? Sonhou? Fez cocô? Deixa eu ver... Vamos limpar... Assim, levanta um pouco o bumbum...
(troca fralda, troca roupa, ajeita, arruma, limpa, deixa a Vó sentada na cama)
FILHO - Preciso ajudar. Tá na hora. (põe a máscara e se aproxima)
(bate à porta, a Filha abre, ele entra)
FILHO - Bom dia! Dormiu bem? Sonhou? Já comeu? Vamos lá... (junto com a Filha move a Vó para a cadeira) Isso! Tá linda! Bom Dia! Até amanhã!
FILHA - Será que você pode dormir aqui esta noite? Tenho um compromisso...
FILHO - Você sabe que é impossível! Oferece um extra prá empregada dormir... Ela sempre aceita. Eu pago! (beija as duas e sai. Tira a máscara e volta para o trânsito)
EMPREGADA - (ao celular) Tá bom. Depois te ligo. Tenho que trabalhar. Beijo. (põe a máscara e se aproxima) Bom dia, meus amores! (Veste o uniforme) Tudo bem por aqui?
FILHA - (pegando a bolsa) Você pode dormir aqui hoje? Naquele esquema extra...
EMPREGADA - Posso, sim, não tem problema. Vai tranquila... (termina de ajeitar a Vó, entrega um livro para ela e vai cuidar da casa)
FILHA - Até amanhã, então! (beija a Vó e sai. Tira a máscara e volta para a loja)
ENTREGADOR - (ao celular) Tá bom. Depois te ligo. Tenho que trabalhar. Beijo. (põe a máscara e se aproxima carregando água. Bate à porta. A Empregada abre e ele entra.) Bom dia! Chegou a água das meninas! (recebe) Obrigado! Até mais! (A Empregada abre e ele sai. Tira a máscara e volta ao celular.)
VIZINHA - Quero conversar! Vou ver a minha amiga... (põe a máscara e se aproxima. Bate à porta. A Empregada abre, ela entra. Cumprimentam-se.) (para a Vó) Bom dia! Dormiu bem? Sonhou? Já comeu? Tá lendo? Que bom! (começa a conversar animadamente com a empregada sobre trivialidades das quais só se escutam trechos e frases soltas, como "Ai, ainda bem!" ou "Ele vem me pegar hoje à noite" ou "Não sei onde estava com a cabeça!" ou "Você não viu ontem na televisão?")
EMPREGADA - (para a Vó) Vamos almoçar, meu amor? Está com fome? Já está quase na hora...
VIZINHA - Eu vou indo, então. (para a Vó) Tchau! Até mais! (A Empregada abre, ela sai. Tira a máscara e volta ao espelho.)
A Empregada serve a refeição da Vó e almoça junto. Depois arruma tudo e começa a cuidar das roupas, lava e passa. A Vó lê, dorme e às vezes fala sozinha. Às vezes a Empregada fala com ela. Às vezes os filhos aparecem em seu pensamento e ela fala com eles em voz alta, mas a Empregada não liga. Já está acostumada.
EMPREGADA - (para a Vó) Vou trazer seu chazinho, meu amor! (traz uma xícara e entrega nas mãos da Vó.)
A Vó larga o livro para pegar a xícara. Deixa a xícara cair. Cai de lado em silêncio. A Empregada grita. Começa a telefonar. Barulho de ambulância. A Filha põe a máscara e se proxima. O Filho põe a máscara e se aproxima. A Filha e o Filho ajeitam a Vó deitada e coberta. Aos poucos vão se juntando outras máscaras de parentes e amigos atrás da Vó deitada. A Vó levanta, acena a todos e sai de cena. A Empregada recolhe as cobertas e sai de cena. Todos vão saindo de cena e tirando as máscaras. A Filha fica por último.
FILHA - (olhando pela janela) As crianças nunca mais virão brincar no jardim. Agora a casa está vazia. (fecha as cortinas e as portas e tira a máscara.)
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